Pirilampulam blogs de poesia. Jornais as publicam diariamente. Na tv, é chique. Baita-machos confessam ler e até escrever uns versos. A literatura retoma ao lirismo seu patamar de nobreza.
O que deu no povo para render-se ao poema?
Escrevinhadores são seres estranhos. Incapazes para qualquer profissão ou vagabundos. Os melhores são ambos. Escrevem pois é uma ânsia irresistível, íntima, reveladora dos segredos, preconceitos, opiniões polêmicas. Tão pessoal que alguns jamais revelam suas preciosidades, engavetam e pronto.
A interNerd difundiu esses tesouros. Expôs ao mundo aqueles versinhos do fundo da alma. Milhares de poetinhas encontraram um varal para pendurar suas composições. Esses escrevinhadores, estranhos, descobrem que escrever bem não é mérito raro. Pior: percebem que a poesia é, na verdade, sentimental. Não basta um bom texto, tem que dar sorte do leitor estar no “momento” certo para ler.
Daí, os tecladores malucos que adoram resfolegar baba nos textos dos amigos, se aplicam em elogiar a todos como uma metralhadora giratória, esperando acertar alguém que o elogie de volta. Um ciclo, viciado e imprestável, que não é verdadeiro nem capacita os debatentes.
Por outro lado, os neuróticos digitadores também percebem que há bons ou, quiçá, maravilhosos poetas que usam a rede como mais um meio para construir a literatura. Repito: construir. Os bons poetas crescem ao ler textos alheios, ao receber críticas embasadas e, principalmente, quando divulgam na rede uma visão poética sensível, responsável, preocupada em difundir a poesia não como forma de engrandecimento pessoal, mas numa concepção mais humana, que aproxime as pessoas através dos sentimentos comuns, das tristezas, dos sonhos perdidos, daquilo que faz de todo homem um irmão: o amor.
Esta excentricidade poética existe desde sempre, por todo lado, sem tabu de sexo, cor ou nível. Faz do homem um igual, conversa sem linguagem, exibe o que os maus escondem: a nossa fraqueza. E, assim, nos abraça como espécie.
(-Espécie? -É. Sapien. -Ah).