Um chá em Pelotas

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What about a nice cup of tea?
Eduardo Deboni / Foter / CC BY-NC

Um homem parou. Imóvel. Corpo raptado do movimento. E os outros, todos os outros, indo e vindo. Era sempre assim. Com ele também. Mas agora não. Recusaria o fluxo. Não era o dele. O fluxo. Dele. Mas o deles. Ruas de levar corpos. Ruas de conduzir corpos. Não. Não queria mais as ruas. Os espaços delimitados e determinados e preparados para ser dele. Queria outros. Queria?
Não era uma certeza. Ou era? Era a certeza da própria dúvida. Relutava. Os corpos em carne que oscilavam, ondulavam queriam a sua. A sua carne no fluxo.
E ele ali. Imóvel. Só os olhos procurando outras vielas de possibilidade. Possíveis. Precisava encontrar outros possíveis. Ou morreria. O morrer fazia parte do plano. Morrer seria outro caminho? Um possível? Ir para onde, estar onde?
Os olhos em movimento vendo tudo o que era para ver. Todos os corpos, todos os lugares de estar. Todos os lugares que não pretendia.
Desviavam com destreza, chegavam próximos, quase zombando de sua imobilidade. Olhos brilhantes e inquisitivos. Seria louco? Seria louco? Como não andar? Como não seguir as ruas de todos os passos?
Nos táxis e nos ônibus. O movimento outro. Mas sempre o movimento. Mas quase já não havia um som. Todos com fones nos ouvidos. Trilhas sonoras particulares. Música para embalar o movimento das carnes.
Sentar seria bom. Mas isso acabaria lhe enfraquecendo, fraqueza. Precisa ficar ereto. Firme, enfrentar o movimento. Criar um outro, mas como?
Os olhos. Já não precisava mais. Eram as mesmas imagens. Fechou as imagens mesmas. Já não às queria. Correr bastante no mesmo lugar? Rainha vermelha?
Abrir uma valise, raptar as palavras de ordem sacudi-las violentamente e fundi-las uma nas outras para criar outras mais brandas. Singulares.
Bramir a espada Vorpal e clamar por um novo Jabberwoocky capaz de aterrorizar aquele movimento desesperado?
Era briluz.
Mas não era. Era o sol da uma hora. E o tempo de chegar ao trabalho se extinguia. A sanidade também.
Colocou a cartola de faz-de-conta na cabeça, sentou em uma mesa de lata em um bar qualquer e pediu um chá. Era verão em Pelotas.

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